Collor

Apesar do nome sugestivo, Collor era apenas o cachorro de Zé Lauro.
Os acontecimentos que serão narrados envolveram os dois personagens citados e outros que, oportunamente, merecerão destaque. O fato é que o pobre animal, de uma vida feliz, acabou entregue à sua própria sorte — e, o que é pior, foi morto acidentalmente pelas mãos do próprio dono.

Mas não podemos começar assim; apoiemo-nos na gênese dos fatos.

Quando chegou à casa de Zé Lauro, ainda filhote, vindo da casa de parentes — que, por não suportarem suas traquinagens, resolveram se desfazer do travesso —, Collor inundou aquela casa de alegria.

Todos estavam entusiasmados e se divertiam com o novo membro da família. Menos o pai de Zé Lauro, Virgulino, que nutria uma antipatia doentia pelo cão. Isso se baseava no fato de ter sido obrigado a engolir aquele enfadonho animal, numa votação em que fora voto vencido — sem apelação.

Todavia, à medida que o tempo passava, Collor crescia e ganhava cada vez mais terreno no coração das pessoas que o rodeavam. Proporcionalmente, aumentava a cólera de Virgulino por toda aquela situação que ele tinha de tolerar.

Dia após dia, o homem pensava, repensava, mas não encontrava um modo de colocar um ponto final naquela história, que já ultrapassara todos os limites de sua paciência.

Porém, “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura” — e a grande chance de Virgulino finalmente apareceu.

Numa tarde, após uma violenta discussão entre Zé Lauro e seu irmão caçula, Leopoldo, Collor, ao ver aquela confusão, atacou o rapaz, que, atônito, começou a correr pelo quintal com o cachorro no seu encalço. Vendo isso, Virgulino armou-se de um cabo de vassoura e atirou-se sobre o cão, que só pôde fugir para não ser abatido ali mesmo.

Aproveitando-se daquele pandemônio, o homem colocou o cachorro dentro de uma sacola, foi até o carro e desapareceu.

Depois desse episódio, Zé Lauro nunca mais teve notícias do seu amigo. E o seu coração sempre doía quando olhava para a velha coleira abandonada.

Por ironia do destino, alguns meses mais tarde, quando voltava para casa com sua namorada, Adriana, Zé Lauro não conseguiu desviar o carro de um vira-lata que atravessava a rua — e o atropelou.

Quando desceu do automóvel e constatou o que havia ocorrido, o rapaz teve um sobressalto; instantaneamente, seus olhos encheram-se de lágrimas. Tudo porque o cão que agonizava ali, bem diante dele, era o seu velho companheiro: Collor.