Um presente muito significativo chega me às mãos: dois livros de poesia onde, a autora, uma ex aluna, acrescenta uma delicada dedicatória falando de sua gratidão pelas aulas que lhe mostraram o caminho poético. Pura generosidade…
Na verdade, este caminho está definido na essência de cada um…Página a página fui lendo seus textos e, aos poucos, senti – me transportada para aquele tempo em que líamos muito, refletíamos muito, discutíamos muito sobre autores mais influentes…
Naquela época, estudávamos a arte literária e, como não poderia deixar de ser, dedicávamos um tempo à poesia em todas as suas manifestações, da clássica à modernista. Apesar de merecerem o devido apreço por seus próprios valores, era visível que a preferência sempre recaia sobre a liberdade poética defendida, à princípio, pelo romantismo e mais tarde, acentuada pelos modernistas.
Romper as formas fixas racionais não era tão simples como possa parecer. Devíamos reconhecer o quanto a tradição retórica ainda possuía recursos para sustentar a excelência em obras de arte. Com o passar do tempo e de muita especulação em torno de experimentações formais, as renovações estéticas da poesia voltaram a se impor, graças à sensibilidade e à imaginação que lhe emprestaram uma riqueza peculiar, diferenciada daquela rígidez e regularidade comum a tantos. Na verdade, a poesia surgiu para explorar conceito novo da “realidade” inspiradora, vivenciada pela emoção do poeta. Este se permite desnudar e expor sua essência, sua vida interior. Como um ato catártico ele revela o que se passa em seu âmago. Uma expressão inteiramente lírica de como sente o mundo que o cerca.
A leitura poética não é mecânica. Ela tem um profundo comprometimento com o pulsar da alma e do espírito de seu autor, buscando sua voz mais íntima, suas inquietações, seus anelos e desejos, suas ambiguidades e dúvidas torturantes, seus sentimentos obscuros ou iluminados…Entendê – los é dar – lhes direito à vida …
Quando atingimos este patamar da compreensão, estamos aptos a dizer que a criatividade poética acontece quando o poeta volta seu olhar para dentro de si, abandona seu censor interno e encontra uma forma de exteriorizar o que alí estava guardado. Eis o nascimento da poesia lírica! A vida é feita destes momentos preciosos quando a paixão do sentir encontra as palavras certas, o ritmo adequado para soprar aos ventos as nuances da alma!..
É também neste nível de compreensão que estabelecemos a cumplicidade necessária para perceber delicadezas, encantos, conflitos e, quem sabe, os mistérios de quem ousou poetar. Sabemos que não pretendeu atingir, com suas palavras, a beleza absoluta e sim, expressar o que sente colocando se intensamente diante da vida. Não é mesmo tão simples ler um poeta! É preciso que cheguemos ao encontro de seu estado lírico para que possamos avaliar seus méritos.
Refaço – me destas divagações em torno de um tema que me cativa. Volto aos livros que recebi. Passeando pela pluralidade metafórica do “Entardecer” de Cristina Magela, encontro em seu prefácio, esta afirmação:
“Tudo é real mas ao se vestir de poesia, a beleza que brota nas entrelinhas torna -se o campo para sorver o texto.”
Sinto – me tranquila.
Vivendo meu entardecer, vivo também a paz da missão cumprida!
NOTA: Áurea Luíza Vasconcelos ocupa a Cadeira número 34 da Academia Barbacenense de Letras