Ao lado do Sacrário

Maria Leite de Castro Coutinho (Dona Totoca)

 

Dedicado a S Exma Revma Dom Oscar de Oliveira, no dia de seu ingresso na Academia Barbacenense de Letras

 

Ao lado do Sacrário…

Duas vozes bem suaves

Acusavam-se baixinho:

A luzinha do Sacrário

E uma rosa sem espinho.

 

_ Tenho inveja de você,

Disse a rosa se corando.

Dentro em pouco, murcha e morta,

Serei jogada ao relento.

Você, não;

Em sua nobre missão,

Ficará iluminando

Nosso Jesus redivivo;

Tenho inveja de você.

 

E a luz em tom complacente

Consolou a companheira:

_ Como te enganas, querida;

Quando morro, deixo trevas,

E de ti, além da morte

Fica o perfume ainda.

Eu sim, invejo-te a sorte.

 

Abriu-se lentamente

a portinha do Sacrário.

Jesus sorriu docemente,

Dizendo muito obrigado.

E no outro dia cedinho…

Oh! Meu Jesus! Oh! Meu Cristo!

Chegando o Senhor Arcebispo,

Chegando pra celebrar,

Viu escuro todo o templo

E sem flor para enfeitar.

 

Mas, ao abrir o Sacrário,

O que foi que encontrou?

Uma lanterna sem vela

E uma jarra sem flor.

Ao invés de vida efêmera,

Com destino à eternidade,

Luz e rosa abraçadas

Foram por Deus levadas

Para o Reino do Amor.

 

Poema de Maria Leite de Castro Coutinho (Dona Totoca) publicado no Anuário de 1982 da Academia Barbacenense de Letras