Por Abgar Renault (Membro Honorário)
Ah mundo, vida do perpétuo equívoco!…
Vanidade de entrar o fechado mistério
Ou vocação terrena para não descobrir a áurea chave?
Mistério real selado eternamente
Ou vago ar sem sentido e sem nenhuma chave?
Existe a palavra liminar, ordenadora do caos,
Ou é tudo involuntário jogo do acaso
Que tece e destece a trama gratuita do acontecimento,
E o tinge da cor das horas, e o embebe de humano pensamento?
E essas horas serão engano puro, fluida forma
De Homem e das cousas que como folhas tombam de Homem,
Ou verdadeiramente vêm e vão – trépidas aves de invisível céu -,
Ou vivem imóveis e através de sua quietude Homem caminha sem saber?
E depois que acabar de passar por sua indiferença,
Que novas horas baterão?
E onde baterão – em que planície, em que relógio, em que montanha?
E que verá Homem – e com que olhares de que olhos?
Qualquer resposta o afogaria num mar morto de perguntas.
Não há verbo final, nem resposta nenhuma:
Tudo, até o mistério, é vaga inferência transitiva.
Não conhece Homem nada do que existe, nem se existe,
E o que sabe e sente é apenas uma véspera.