Discurso proferido pelo Presidente da ABL no lançamento do Documentário do Professor Fullin

No dia 24 de janeiro de 2025 houve o lançamento do documentário  sobre o Professor Fullin, produzido pelo Projeto de Extensão do IF Sudeste em parceria com a Academia Barbacenense de Letras.

Na ocasião, o Presidente da Academia Barbacenense de Letras, Rodrigo Tostes Geoffroy, assim se manifestou:

DISCURSO PROFERIDO POR FORÇA DO LANÇAMENTO DO
DOCUMENTÁRIO “PROFESSOR FULLIN”, FRUTO DO PROJETO
DE EXTENSÃO “HISTÓRIA, DESAFIOS E FUNDAMENTOS DA
EDUCAÇÃO DE BARBACENA E REGIÃO: UM DOCUMENTÁRIO
SOBRE A ATUAÇÃO DO PROFESSOR FULLIN NO ENSINO –
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E
TECNOLOGIA DO SUDESTE DE MINAS GERAIS – CAMPUS
BARBACENA, EM 24 DE JANEIRO DE 2025.

 

Ilma. Sra. Pedagoga Eliane Loschi, Digníssima Diretora-geral Pro-tempore
do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas
Gerais, Campus Barbacena;

Ilma. Sra. Professora Varlene Saldanha, Digníssima Diretora de Extensão do
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas
Gerais, Campus Barbacena;

Nobres familiares do saudoso Professor Benjamin Fullin,

 

Cumprimentando Vossas Senhorias, assim o faço, em igual medida, com
toda a audiência que, nesta tarde de júbilo, nos honra com suas presenças!

 

Senhoras, senhores, iniciemos, pois, nossa preleção, refletindo acerca
do legado de Giovanni Melchiore Bosco, insigne educador, mais conhecido
como Dom Bosco. Nasceu em 16 de agosto de 1815 em uma fazenda nas
montanhas de Becchi, nos alpes italianos, oriundo de uma família humilde
de trabalhadores rurais. Desde a mais terna idade, sentiu o chamado,
confirmou, por toda uma vida, a vocação: servir à juventude.

Ele estudou, se preparou, ordenou-se sacerdote. Tinha um hobbie
curioso: gostava de malabarismo. Foi assim que o mistério de Dom Bosco se
iniciou. Aprendeu as manobras e passou a executá-las em praça pública,
atraindo, sobretudo, os mais novos. Não recebia dinheiro. Fazia, em troca,
uma homilia e solicitava, da plateia, que se unisse a ele em oração.
Percebendo o crescente número de jovens, muitos dos quais órfãos que
vagavam em busca de refúgio, acolhimento, pelas ruas de Turim, decidiu
abrir um orfanato. Lá, não somente lhes proporcionava abrigo, pão, calor,
mas os ensinava as letras, preparando-os para conquistar empregos dignos,
estáveis. Educava-os, pois!

Certa feita, em Turim, em 1854, dirigindo-se a um grupo de
adolescentes, disse: “Nossa Senhora quer que fundemos uma sociedade.
Decidi que nos chamaremos Salesianos. Coloquemo-nos sob a proteção de
São Francisco de Sales”.

São João Bosco dedicou a sua vida aos jovens carentes, de toda sorte…
Ele promoveu o surgimento de oficinas, escolas, oratórios e, mais relevante,
concebeu um sistema educacional, até então não visto: o Sistema Preventivo.
Apoiava-se no trinômio “Razão, Religião e Amor”. Compreendia ser
impossível educar apenas pela razão, se o indivíduo não é abraçado, amado;
se as suas lacunas, desventuras, não são compreendidas; se não é apoiado
para superá-las, não há sucesso…

O Sistema Preventivo de Dom Bosco forma o ser humano no corpo,
no coração, na mente e no espírito. Frisou que a juventude deveria ser
ensinada, educada, cabe aqui rememorar, inclusive, a etimologia: duco, em
‘educada’, é elemento de composição da língua latina, significando
“conduzir, guiar”. Portanto, educar é conduzir. Essa mocidade deveria, deve
ser conduzida com paciência, empatia em detrimento à intimidação, à
punição.

Senhoras, senhores, “História, Desafios e Fundamentos da Educação
de Barbacena e Região: um documentário sobre a atuação do professor Fullin
no ensino” tenciona retratar a presença, inconteste, de um educador que
viveu entre nós.

O germe dessa obra se deu no seio de mais uma geração desta distinta
família barbacenense. A senhorita Thaís Fullin, neta do nobre docente, vez
por outra, se via perguntada, por vários munícipes, em suas incursões pela
cidade, que tipo de relação podia ela guardar com o famoso mestre,
possivelmente por conta do sobrenome.

Certo dia, comentando com sua amiga, Bianca Alvin, essa demonstrou
interesse pelo tópico da conversa, pois ela própria também já ouvira muito
sobre aquele personagem. Propôs à amiga, pois, que, de algum modo, aquele
mote pudesse ser aproveitado em um projeto de extensão, por exemplo.

As instituições federais de ensino, via de regra, desenvolvem suas
atividades em três frentes: ensino, pesquisa e extensão, preferencialmente de
maneira indissociável. Como o nome diz, a extensão leva, além-muros, o que
fazemos nas outras duas frentes não apenas como uma forma de estorno das
expensas do contribuinte brasileiro, mas visando à inclusão da comunidade.

Bianca procurou, então, o professor Valdir que, por sua vez,
apresentou-me a proposta de um projeto de extensão, o documentário;
convidou-me para coordená-lo, junto a ela, e também convidou a Academia
Barbacenense de Letras, já que a instituição poderia contribuir para a
consecução do objetivo por estar ligada às questões atinentes à cultura, além,
naturalmente, de se constituir uma parceria fundamental, e de praxe, entre
instituições públicas e privadas, em muitos projetos de extensão como este.
Não obstante, claro, razão primeira: a relevância do professor Fullin para a
municipalidade, para a região, no que concerniu à sua vida, ao seu ofício, às
suas contribuições para a sociedade, ao legado, enfim!

Submetemos o projeto. Obtivemos sucesso. A jornada estava por vir.
Reunimo-nos, estabelecendo e partilhando as tarefas. Criamos o
cronograma. Avante! Inicialmente, contamos com o vasto acervo da família
Fullin, com os depoimentos deles, de amigos mais próximos, ex-alunos,
colegas de trabalho. Pesquisamos também na internet, em documentos
históricos, jornais de outrora, arquivos públicos e em várias outras fontes que
puderam subsidiar nosso verdadeiro múnus.

Triamos as informações, as fotos, todos os documentos, em um
trabalho árduo, porém valoroso da equipe de execução do projeto, a qual cito
nominalmente: Bianca Alvin de Andrade Silveira, responsável pela
comunicação social do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia,
Campus Barbacena, vice-coordenadora; professor Alexandre Bartoli
Monteiro, pesquisador; professor Valdir José da Silva, pesquisador; Ana
Cristina Franco, acadêmica do 2º ano do curso de Hospedagem e bolsista-
pesquisadora; Sofia Rodrigues Guimarães, acadêmica do 2º ano do curso de
Hospedagem e bolsista-pesquisadora; Thais Oliveira Fullin, jornalista e
diretora do documentário; André Felippe Oliveira de Paula, cinegrafista. Não
desejo agradecer vocês. Preciso fazê-lo!!! Da mesma forma, o faço com
todos que contribuíram, depondo, fornecendo material, de um sem-número
de maneiras!!!

O documentário, ora apresentado, baseia-se na trajetória profissional
do professor Fullin, como docente, fundador, de várias instituições
relevantes para Barbacena e região, no seu modo de lidar com os alunos,
sobretudo aqueles que traziam consigo as muitas marcas, as muitas agruras
de uma existência, tais como aqueles que iam ao encontro de Dom Bosco,
tais como o público prioritário da Febem, local em que se notabilizou nosso
homenageado.

A Fundação para o Bem-Estar do Menor, Febem, foi uma instituição
estadual que atendia crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade
social, como abandono, pobreza ou delinquência. Surgiu a partir da
Fundação Nacional para o Bem-Estar do Menor, Funabem, em 1964, à luz
do ideário “pedagógico” da ditadura militar, sendo extinta com o advento da
Lei nº 11.819/ 1995 que criou a Secretaria de Estado da Criança e do
Adolescente.

Anos e anos, a fio, o professor Fullin dedicou-se a essa causa,
edificando um caminho calcado na fé, na tenacidade, na resiliência, no
ímpeto. Sua conduta profissional, pedagógica, resultou numa miríade de
contribuições para a instituição do Estatuto da Criança e do Adolescente,
conhecido como ECA, fruto da Lei nº 8.069/ 1990, um avanço
inquestionável no ordenamento jurídico do país. O ECA se assenta em três
princípios básicos, quais sejam: a proteção integral; a prioridade absoluta e
a participação.

“Em todo jovem, mesmo no mais infeliz, há um ponto acessível ao
bem, e a primeira obrigação do educador é buscar esse ponto, essa corda
sensível do coração e tirar bom proveito”. À semelhança da conduta de Dom
Bosco, sintetizada pelo próprio nesses termos, nosso professor Fullin não
somente encontrou o ponto, mas fez ressoar, em um compasso perfeito, a
“corda sensível” e, ao tirar “bom proveito”, transformou vidas. Ele abrigou,
alimentou, acolheu, mas, sobretudo, educou, digo, conduziu!

Senhoras, senhores, o propósito basilar de um documentário é
produzir memória. Memória que delineia a identidade. Identidade que forja
a cultura. Cultura que as academias, como a Academia Barbacenense de
Letras – ABL, cultua e preserva. Assim, após o périplo de,
aproximadamente, meio ano, vivemos o bálsamo de poder apresentar ao
público “História, Desafios e Fundamentos da Educação de Barbacena e
Região: um documentário sobre a atuação do professor Fullin no ensino” e,
em alusão ao lema da ABL, ínsito em seu estandarte: O Fim Coroa a Obra!
Muito obrigado!

 

Rodrigo Tostes Geoffroy

Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Sudeste de Minas Gerais, Campus Barbacena.