Um Poeta: Honório Armond
Parece uma ousadia eu o dizer: Guerra Junqueiro e Honório Armond são os meus poetas predilectos.
Não fiz comparações.
Não conheço outro poeta que se possa comparar a Guerra Junqueiro.
Essa individualidade só pode ser estudada isoladamente: é incomparável.
Sob o ponto de vista philosophico-religioso poderá ser estudado com Tolstoi.
Guerra Junqueiro escreve evangelho, livros divinos, puros, ideaes.
Seu amor à verdade, seu desprezo pela mentira e pela vaidade, fazem-no uma entidade à parte, diferente, a quinta essência de uma mentalidade superior.
Como entre nós a fantasia constitue o encanto da nossa vida, da nossa literatura, como entre nós, sob o ponto de vista philosophico – as ideias originaes nos faltam, como geralmente as altas cogitações do espírito se afastam dos cérebros fantasistas e irrequietos dos nossos literatos, a musa de Honório Armond despertou a minha atenção e sentinela, algo de novo, algo de profundo.
E, se bem não tenha meu nome autoridade para dizer isso ou aquillo, o século da inteira liberdade de pensar e de investigar a Verdade a indivíduos de ambos os sexos.
A vida, para mim, é encarada sob um duplo aspecto e investigar a além acho que é indispensável para o progresso mental dos povos. O problema do ser ou não ser é o mais importante de quantos se investigam.
E Honório Armond pensa, discute consigo mesmo, é, ao mesmo tempo, buddhista, atheu, christão, cantando em rimas.
Se Honório Armond continuar a estudar e a pensar, – sua musa tomará um lugar à parte na litteratura brasileira, fará um desses “verdadeiros symbolos fixos que caracterizam épocas de maior relêvo, momentos de vida mais intensa” na frase de Coelho Netto.
Não critico, torno a dizê-lo, mesmo porque para que eu criticasse o livro do poeta era preciso que eu conhecesse toda a poesia contemporânea, a poesia dos nossos antepassados, a litteratura poética de outros povos.
Não tive tempo de conhecê-la ainda, por infelicidade minha.
O limitado tempo que me sobra dos meus deveres de esposa e dos meus estudos de mulher, eu o emprego em lêr a litteratura do meu País e me não foi possível até hoje, conhecer o melancholico e amoroso Musset, o grande Beaudelaire e Lamartine e Rabelais e Montaigne, sob o ponto de vista poético.
O pouquinho que tenho lido me faz entretanto adorar o lyrismo de Gonçalves Dias, de Thomaz Gonzaga, de Luiz Delphino, a delicadeza de Affonso Celso, de Olegário Mariano, o parnasianismo de Alberto de Oliveira, a philosophia profunda de Tobias Barreto, a naturalidade e a belleza da imaginação de Vicente de Carvalho, de Bilac, de Gilka Machado, de Raymundo de Correia, a simplicidade e delicadeza de Casimiro de Abreu e de Belmiro Braga, o satyrismo ridente de Correia de Almeida, bem como as bellezas descriptas em Castro Alves, Claudio Manuel da Costa, Luiz Guimarães, Augusto de Lima, Felix Pacheco e tantos, tantos e tantos que seria ocioso enumerar.
Agora, nomes como os de Victor Hugo e Guerra Junqueiro…
Mas, Honório Armond é brasileiro, é mineiro e – é um livro de transição…
A poesia de Honório de Armond vae assignalar, no Brasil, o período de evolução por que passa o planeta, sob o ponto de vista philosophico-religioso.
E… faz pensar!
Maria Lacerda de Moura
In “Em Torno da Educação, 1918, Livraria Teixeira, São Paulo, SP, págs. 112-114)
Fonte: Anuário da Academia Barbacenense de Letras 1996/97, págs. 20-21
“Casa da Cultura” Ilustração de Waldir Damasceno no livro “Cores de Barbacena, uma viagem pela história da cidade”, página 113 (Cadeia Velha – década de 1930 / atual Casa da Cultura Municipal). Técnica: Aquarela/nanquim s/ papel debret – 56×37 cm – desenho e pintura a partir de foto
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