José Cypriano Soares Ferreira

Apologia de José Cypriano Soares Ferreira e Padre Armando Cesário Ferreira de Lima: História, Língua e Literatura em convergência numa introdução

 

 

José Cypriano Soares Ferreira

Senhoras, senhores.

 

Aos nove dias do mês de outubro do ano de mil novecentos e setenta e sete, em meio às montanhas da Serra da Mantiqueira, era fundada a Academia Barbacenense de Letras (ABL). Intrépido e visionário, Plínio Tostes de Alvarenga, o fundador e o primeiro presidente, vislumbrou, em sua iniciativa, uma casa que pudesse, antes de tudo, resguardar e exaltar a memória das letras barbacenenses e os feitos notáveis de seus conterrâneos, no que concernia ao vasto, e caro, legado cultural, amiúde, aqui produzido.

          A Academia Barbacenense de Letras contou também, nos seus primórdios, com as valorosas contribuições de importantes amigos e amigas das letras para a empreitada de seu nascimento. Marinho Luiz da Rocha, Fábio Nézio, Sidnei Cunha, Paulo Maia Lopes, Mário Celso Rios, e tantos outros e outras que, irmanados no espírito altivo do saudoso professor Plínio, impulsionaram o sodalício e o fizeram realidade incontendível em nossa terra, na sede da antiga ABIR – Associação Barbacenense de Imprensa e Rádio.

          Primeiramente, a Academia Barbacenense de Letras se reunia na residência de Plínio Tostes de Alvarenga, na avenida Pereira Teixeira e, quando havia sessões solenes, sua sede era transferida para locais públicos, tais como as dependências da Câmara Municipal, apresentando-se efetivamente para a população, e acolhendo os munícipes.

          A partir do ano de 1991, em data magna, que celebrava o Bicentenário de Barbacena, a ABL teve sua sede transferida para uma das salas da antiga Cadeia Pública, conhecida atualmente como Casa da Cultura e localizada na rua General Câmara, número 11. A efeméride, sem dúvida, representou acontecimento ímpar para a trajetória da Casa de Plínio Alvarenga – um presente valioso! Todo o acervo foi transferido, também melhor alocado no espaço novo, e as atividades culturais da entidade puderam ocorrer de maneira mais frequente e com maior liberdade.

          A inspiração, para a tão louvada obra, está na sua congênere: a Academia Francesa de Letras que, por sua vez, também serviu aos moldes organizacionais de nossa dileta Academia Brasileira de Letras, a Casa de Machado de Assis. Seguindo, pois, as coirmãs, a Academia Barbacenense de Letras está estruturada da seguinte maneira: composta por 40 (quarenta) cadeiras, as quais têm seus respectivos patronos e são ocupadas por associados efetivos, além de haver os associados correspondentes e aqueles que têm o statu quo de honorários, segundo rezam as letras estatutárias.

Os sócios correspondentes residem fora da sede. Trata-se de barbacenenses ou amigos de Barbacena, que engrandecem e dão projeção à cultura e ao prestígio da cidade, nas fronteiras do Brasil ou mesmo para além dessas. Os sócios honorários são aqueles que tenham prestado relevantes serviços culturais à Academia ou à cidade.

 

 

As finalidades da ABL são:

 

“I – congregar os esforços daqueles que se interessam pelo progresso intelectual e artístico de Barbacena;

II – incentivar, por todos os meios, o cultivo e a divulgação das Belas Letras;

III – colaborar com os poderes públicos, tendo em vista o pleno desenvolvimento de suas atividades”, de acordo com seu estatuto, recém-atualizado.

 

Nossa Casa se descortina, tenaz, nas paragens da “Nobre e Muito Leal Villa de Barbacena”, título concedido pelo jovem Dom Pedro I, ancorada no mote: “Finis coronat opus.” Do latim, o fim coroa a obra: um dizer pleno de significação, que reflete, na simbologia de seu conteúdo, o conceito de um fazer cultural elevado, altivo e engajado!

Ainda, a Academia Barbacenense de Letras tem o orgulho de ter por patrono o insigne Alberto Santos=Dumont. Ilustre habitante de nossas terras, aeronauta, esportista, sexto filho da senhora Francisca Santos e do senhor Henrique Dumont, antigos cafeicultores na Fazenda Cabangu. Homem de inteligência arguta, inventiva, devotado a um propósito, à realização de um sonho; reconhecido pela resiliência e pela perseverança – um herói nacional!

Este ano de 2023 encerra data muito especial para o nosso sodalício, para a nossa cidade, para o nosso país e, porque não, para o mundo… Comemoramos o Sesquicentenário de nascimento do grande inventor conterrâneo. Um bálsamo! Vivenciamos importantes momentos, nos quais pudemos materializar o preito necessário, a verdadeira apologia!

Aliás, como de praxe nas arcádias, esse é um acontecimento distinto. A apologia é o discurso laudatório, direcionado ao patrono, ou à patrona, da cadeira do acadêmico. É o elogio, ou o texto em que defendemos, enaltecemos, de maneira apaixonada, uma personalidade, num ato revestido por benquerença. Externamos, ainda, a admiração, a afeição, o apreço e a amizade por ele ou por ela.

Nos termos estatutivos da Academia Barbacenense de Letras, mais precisamente, no capítulo terceiro, que versa acerca da organização dos membros na Casa, conforme mencionado anteriormente ao aludirmos à Academia Francesa, encontramos no artigo sétimo, parágrafo segundo, o ditame:

 

“Serão associados efetivos os ocupantes das 40 (quarenta) cadeiras, com seus respectivos Patronos, para os quais farão o elogio acadêmico, no ato, ou depois da posse”.

         

          Assim, não somente por força regimental, mas, sobretudo, movido pelo mais profundo sentimento de júbilo, procedemos ao encômio oral do nosso patrono, na cadeira de número 28, nesta Casa de Plínio Alvarenga e de Santos=Dumont. Antes, contudo, ressalvamos constituir-se de uma obra em edificação, apresentada, pois, coligindo as primeiras informações e os dados triados, mas já, indubitavelmente, sedenta e carente de continuidade pela riqueza da verve deste homem singular para nós, barbacenenses.

 

 

Senhoras, senhores.

 

          José Cypriano Soares Ferreira, fruto da união de João Evangelista Soares Ferreira e de Maria Leopoldina Carolina de Jesus, nasceu na cidade de Mariana, em Minas Gerais, no dia 12 de outubro de 1860, e ficou “encantado”, assim nos referimos, na arcádia, àqueles deixam o plano terreno, nos termos roseanos, em 09 de março de 1942.

          Soares Ferreira iniciou seus estudos, e, consequentemente, a brilhante carreira, no Seminário Maior de Mariana no período que compreende os anos 1867 e 1875. Começava ali o lapidar de uma personalidade que se revelaria marcante por toda a sua trajetória.

          A fase seguinte, o ensino secundário e superior, também se deu sob os auspícios da escola de vocação confessional. Aliás, pelas sábias e operosas mãos de dom Viçoso, “pai extremoso dos pobres e órfãos”, quem sabe, muito possivelmente, o “precursor” do que poderia ser considerado o primeiro sistema de cotas, visando à inclusão de alunos cujas posses não lhes permitia vislumbrar uma vaga no tradicional e aristocrático Colégio do Caraça, localizado nos municípios mineiros de Catas Altas e Santa Bárbara.

          O aplicado Soares Ferreira abraçou a proposta escolar cujos postulados seminais da confissão católica apostólica romana, marca patente do liceu, lhe garantiram sólida formação por intermédio de múltiplos conteúdos curriculares e, não obstante, de múltiplas práticas educacionais que se encontram referenciadas na visão de mundo, relativa à respectiva religião ou mesmo à ideologia.

Ferreira cursou Filosofia e Teologia no intervalo de tempo compreendido entre 1875 e 1881. Posteriormente, emendando esse período, aplicou-se em Humanidades, precisamente entre 1881 e 1882, sempre se destacando pela disciplina e pela dedicação aos estudos, conforme seus assentamentos escolares demonstram. Tanto que, quando havia as visitas de prelados superiores, o que era contumaz à época, passavam pelas muitas salas de aula do educandário, a fim de verificarem, in loco, o andamento dos trabalhos docentes e discentes. Não raras vezes, questionamentos de toda ordem, queremos dizer, relativos às disciplinas estudadas pelos aprendizes, eram realizados pelos visitantes. Havia sempre um escolhido, para que pudesse proceder à explicação, elucidando o ponto, discorrendo sobre o tópico, de maneira contundente, profunda e brilhante. Quem era o agraciado, pois? José Cypriano Soares Ferreira. Com firmeza, conhecimento sólido e carisma, nunca decepcionou seus mestres tampouco seus colegas de classe.

Ao término dessa importante fase de formação acadêmica, Soares Ferreira, antes de rumar para o Rio de Janeiro, segue para Barbacena pela primeira vez, permanecendo na cidade por um período relativamente curto, enquanto aguardava pelos trâmites de efetivação de sua matrícula na Faculdade de Medicina daquela capital. A estada foi profícua, no sentido de que pôde conhecer um pouco mais sobre os vários atrativos de que dispunha o munícipio mineiro à época.

Pronto a viajar para a Cidade Maravilhosa e prosseguir em seu intento, despede-se de Barbacena. Alcança a planície em 1883, ano no qual também inicia-se na arte de Hipócrates. Mantendo a disciplina, como revelado anteriormente, se destaca também nesse ramo da área de saúde. Muito próximo de seus professores, e também de suas aplicações teóricas, começou, muito tenramente, a aliar a teoria do curso com a clínica.

Lançava-se, na verdade, em várias experiências de atendimento a enfermos no Rio de Janeiro. Eram muitas casas de saúde, muitos hospitais, um sem-número de moléstias grassavam naquela cidade, àquela altura, também porque, em grande extensão, o saneamento básico se revelava insuficiente para atender, de forma adequada, ao adensamento populacional que já se prefigurava. Ademais, as políticas de saúde pública se encontravam em estágio inicial, e isso ocasionou lacunas, riscos reais de contaminação e descontrole de enfermidades, que poderiam ser facilmente evitadas.

Denodado à pratica da clínica médica, mesmo no início do curso, Soares Ferreira, infelizmente, se vê vítima da contaminação pela tuberculose, tendo seus pulmões seriamente acometidos, mesmo que estivesse submetido a um regime de temperaturas tropicais. Precisou, assim, se tratar, sob pena de não conseguir se livrar do acometimento. Em 1885, foi aconselhado, pois, a interromper suas atividades, como acadêmico de Medicina, para que pudesse se restabelecer. Seus mestres não o deixaram à deriva quanto aos cuidados, contudo, ou melhor, quanto ao local mais especializado, naquele momento, no qual poderia ser muito bem assistido. Então, encaminharam-no para uma cidade do interior do estado de Minas Gerais cujo clima e a estrutura nosocomial eram propícios para a assistência de que precisava, com o fito de recuperar suas forças e seu ânimo: Barbacena, um local já conhecido por ele, e por muitos no país que careciam dos mesmos auspícios do nobre estudante.

Iniciou o tratamento para a tuberculose na rede de cuidados médicos da cidade e não mais retornou ao Rio de Janeiro para retomar os estudos na Medicina, lamentavelmente. Após longo período de atenção clínica, recuperou-se. Vislumbrou, em Barbacena, permanecer, uma vez que poderia atuar no magistério, dada à sua formação pregressa.

Dom Viçoso, hoje considerado pela igreja Católica venerável, era amigo de Soares Ferreira, e já o havia auxiliado no Caraça. Folgou em sabê-lo, recuperado. Percebeu que ele se estabeleceria na cidade que o acolhera. Como conhecia muitas famílias ínclitas, lá por onde andava à época, no litoral do estado do Rio de Janeiro, foi-lhe cupido, do primeiro casamento, com a sra. Maria Jordão da Silva Vargas, com quem constituiu prole de quatro filhos.

Colhido, prematuramente, pelo infortúnio da despedida de sua senhora, contrai matrimônio, pela segunda vez, em 1898, com Affonsina Lopes da Silva. Dessa união, surgiram treze rebentos. E, pouco tempo depois, a nova família já se encontrava reerguida, e nosso personagem, devidamente estabelecido, trilhava seu caminho luminoso nas lides educacionais de Barbacena.

Agora, o professor Soares Ferreira entrava em cena. Entre 1891 e 1934, atuou como Professor Catedrático do Gymnásio Mineiro, sendo responsável pelas disciplinas de Língua Portuguesa e Literatura, pavimentando, dessa forma, o caminho que o levaria a muitas outras instituições de ensino na municipalidade. Foi também membro do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais (IHGMG) e membro correspondente do Arquivo Público Mineiro (APM).

Chama-nos a atenção, entretanto, um destaque na exitosa carreira docente. O Catedrático se tornou reitor da escola na qual firmou os primeiros passos profissionais: o Gymnásio Mineiro, muito influente para aquela época. Na verdade, tratou-se de tempo concomitante, como normalmente, nós, docentes, a tal nos referimos. A reitoria compreendeu os anos entre 1908 e 1914.

Ainda em concomitância, desenvolvendo a atividade do magistério em Barbacena; lecionou no Colégio Abílio, do Barão de Macaúbas, e no Colégio Providência, no período que compreende os anos de 1888 e 1890. Ressaltamos que aquele ocupou, previamente, as edificações do Colégio Militar, no qual o distinto professor também atuou, entre os anos de 1913 e 1925; e que, atualmente, servem de endereço à Escola Preparatória de Cadetes do Ar (EPCAR) – A Nascente do Poder Aéreo –, assim denominada, unidade militar do Comando da Aeronáutica responsável pelo preparo do aluno e da aluna para ingressar nos cursos de Formação de Oficial Aviador (CFOAv), Formação de Oficial Intendente (CFOInt) e Formação de Oficial Infantaria (CFOInf); oferecidos, subsequentemente, pela Academia da Força Aérea Brasileira (AFA) – O Ninho das Águias –, assim denominada, um curioso epíteto, aliás, digno do nosso registro e do devido crédito nesta oração; escola, que por sua vez, localiza-se no município de Pirassununga, no estado de São Paulo, cuja missão é formar o oficial da Força Aérea Brasileira das três armas, a cuja referência já procedemos.

Ainda, considerando seu envolvimento com a educação brasileira, nas três esferas, registramos ter sido docente na Escola Normal de Barbacena bem como seu primeiro diretor. Com efeito, uma láurea, digna de nota e da devida reverência! Participou, ainda, do Primeiro Congresso de Instrução Primária do estado de Minas Gerais, em 1927, contribuindo com suas ideias e, àquela altura com a experiência profissional consolidada, para os possíveis ajustes nos rumos da educação básica, que se faziam forçosos, tendo em vista os requerimentos e a vanguarda de um novo século, revelado desafiador.

Lembramo-nos, contudo, mais especificamente aqui, da Escola Nova, movimento capitaneado por Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo (1894-1974), Lourenço Filho (1897-1970), Cecília Meireles (1901-1961), além de outros 26 intelectuais que assinaram o Manifesto – o germe. Eles pregavam a universalização da escola pública, laica e gratuita, amparados nas ideias de Jean-Jacques Rousseau, Heinrich Pestalozzi, John Dewey e Freidrich Fröebel, que, por sua vez, refletiam sobre a rapidez das transformações sociais, políticas e econômicas da época, assim como suas consequências.

Havia, entretanto, a introdução de pensamentos e técnicas novas como métodos diretos, ativos, a substituição das avaliações tradicionais por testes, o ajuste às etapas de desenvolvimento e, sobretudo, às variações subjetivas do indivíduo. O objetivo era centralizar o educando no processo educativo. O professor seria um mediador da aprendizagem, que acompanharia o desenvolvimento natural do aluno. Devia suscitar propostas, situações que conduzissem ao aprendizado, tornando o processo (ensino-aprendizagem), e o ser, ativos.

A efervescência desse novo tempo sofreu influxos do Primeiro Congresso e de seu ilustre participante. O ensino primário podia ser o responsável por construir o patriotismo e o civismo, naturalmente, mas também, sob a égide de Gustavo Capanema, mineiro de Pitangui, o mais longevo ministro da Educação do Brasil, embora conservador, teve Carlos Drummond de Andrade, o poeta-amigo, como seu chefe de gabinete.

O Gauche representava a face progressista do governo Vargas. Mas havia os pesos-pesados da intelectualidade brasileira, os frequentadores do Estrela: o conterrâneo, Abgar Renault,  além do próprio Itabirano,  Cândido Portinari, Mário de Andrade, Oscar Niemeyer, Lucio Costa e Heitor Villa-Lobos, entre outros artistas, escritores e arquitetos, que se uniram em torno de um projeto legítimo de cultura para o país, uma espécie de educação modernista, no longo prazo, num regime, a priori renovador, mas que, por acontecimentos sobre os quais não se detinha total controle, viu-se, portanto, ditatorial e, posteriormente, totalitário. De qualquer maneira, entre tantos outros legados, sob a batuta de Anísio Teixeira, a Escola Nova formou uma nova geração de militantes da educação, com destaque para Florestan Fernandes (1920‑1995) e Darcy Ribeiro (1922‑1997), dois defensores incondicionais da educação pública, gratuita e laica, como mencionamos anteriormente.

A literatura, em acepção mais didática, é a arte da palavra. José Cypriano Soares Ferreira passeou, com maestria, por tal arte. Inúmeros foram seus trabalhos e suas obras. O professor-poeta, ou poeta-professor, escrevia sob o pseudônimo de Euripo Carmense.  Seus principais escritos se enumeram:

-A Biografia do Padre-Mestre José Joaquim Correia de Almeida, sobre a qual o padre Sinfrônio Augusto de Castro se pronunciou: “Este trabalho sobre o Príncipe da Sátira Nacional é completo. Nada de melhor até agora se escreveu biografando o Padre-Poeta.”;

-A Biografia do Monsenhor Moraes;

-Uma Abundante coleção de artigos literários em folhetos e jornais da cidade (1918-1920);

-A Galeria de Marianenses Ilustres;

-O Manuscrito sobre a História de Barbacena;

-A Palestra sobre o Centenário da Independência do Brasil;

-O Discurso sobre a Entronização da Imagem de São José;

-O texto Pedras Preciosas;

-A Conferência intitulada O Coração;

-O Poema histórico O Tiradentes (com notas históricas);

-O discurso A Santos Dumont.

 

          O poeta-professor também se enveredou pela “Última Flor do Lácio, Inculta e Bela”. Publicou a obra Notas sobre a Gramática Expositiva e Histórica da Língua Portuguesa, com apontamentos acerca das características estruturais do idioma pátrio.

          Visando a ilustrarmos sua verve literária, transcrevemos alguns trechos do poema histórico O Tiradentes, obra em versos contendo um Proêmio e quatro Cantos. Destacamos No Posto Fatal, texto que faz parte do Canto III, intitulado A Justiça Real:

 

No Posto Fatal

I

 

“Chega ao campo do sangue, à Lampadosa,

O fúnebre cortejo, a aparatosa

          É enorme procissão;

Aí está o patíbulo alevantado,

Do belo sol da pátria iluminado,

          -Um trono de irrisão!”

 

Observamos o início do processo de martírio de nosso Inconfidente. No trecho II, o epílogo do sofrimento:

 

II

 

“Depois, lá alto da forca,

Quando seu corpo tombou,

Em seus braços a mãe-pátria

Carinhosa o amparou.

 

Rufaram logo os tambores;

Salvou-se o trono real,

Que vacilava e vacila,

E cai, e morre afinal.

 

E o mártir sobe hoje ainda;

Subirá cada vez mais,

Porque essa escada é infinda,

E seus degraus imortais.”

 

          Ainda, destacando as linhas imortais de José Cypriano Soares Ferreira, o habilidoso orador, mencionamos algumas passagens de outra peça histórica que, neste ano, conforme apontamos, se reveste da mais alta relevância para o nosso município e para o nosso querido país: o discurso que saudou Alberto Santos=Dumont, em um banquete, oferecido pela sociedade barbacenense no, outrora, Grande Hotel de Barbacena, em 22 de setembro de 1903, por ocasião de sua visita.

 

A Santos Dumont

 

          “Exmo. Ss. Dr. Santos Dumont

 

          Grande é sem dúvida, sr., e de grandeza incomparável o caudaloso rio das Amazonas, a gigantesca e a mais considerável artéria fluvial de todo o globo!

          Ora sangrando fundo o solo que lhe serve de leito, ora espraiando-se livre por imensas planícies, soberbo e impetuoso à vezes, outras sereno e plácido, ele corre majestoso sempre por entre as florestas virgens do norte do nosso país; e engrossado com as águas de centenas de grandes afluentes, seus submissos feudatários, ao cabo de sua carreira triunfal, ousa finalmente travar luta renhida com o vasto oceano, o poderoso rei das águas, conseguindo repelir, léguas e léguas, as ondas marulhosas do Atlântico!”

 

 

          O orador-professor reverencia, em paráfrase nobre, um poeta lusitano e, por sua vez, tece a símile entre a magnitude do nosso rio e o espírito de nosso patrono, Santos=Dumont. Prossegue:

 

          “Verdadeiro símile encontro eu hoje, sr. nessa paráfrase, que acabo de fazer […], símile perfeitamente aplicável à singeleza das homenagens que ora vos são prestadas pelo povo deste Município em cujo nome tenho hoje a honra de vos dirigir esta saudação.

          Vós também sois grande, sr., e de grandeza incomparável: já tendo a sagração universal pelo vosso maravilhoso invento, imarcescível é a coroa que vos cinge a fronte; imorredouras serão as vitórias incruentas que tendes alcançado; repetido e aclamado tem sido vosso nome entre todas as nações civilizadas. Elevando-vos assim tão alto no seio dos ares, cujas ondas conseguistes dominar, ao fastígio erguestes também o vosso humilde e glorioso berço, verdadeiro ninho de águias, poeticamente oculto entre os alcantis do majestoso planalto de Minas Gerais.”

          Percebemos a força ilocucionária de Soares Ferreira nesta pujante oração! Dominador das nuances estruturais da língua portuguesa, como apontamos, pela articulação verbo-pronominal impecável, pelo emprego de figuras de linguagem que não somente ornam o texto, mas também o torna peça atemporal. Referimo-nos, pois, a uma das mais importantes metonímias, de que se serviu, e que revela a gênese do epíteto, conforme destacamos acima, ao mencionarmos a denominação, pela qual conhecemos a Academia Força Aérea Brasileira: “O Ninho das Águias”. Barbacena, o berço do inventor, o era, de fato, asseverou o professor Soares Ferreira, muito anteriormente.

          Ainda, revestido de modéstia, que lhe era peculiar, e dirigindo-se ao visitante ilustre como “Pai da Aviação”, outra metonímia ímpar, sempiterna, o professor acrescenta:

 

 

          “Agora, sr. permiti que a insuficiência do orador recorra ao poeta, para por esse meio patentear o esforço que empregou, a fim de dar cumprimento à honrosa missão de que foi incumbido pelo Presidente deste Município.”

 

 

          Oferece o soneto intitulado “Salve!”, sob o pseudônimo de Euripo Carmense, no qual expõe todo o reconhecimento ao feito de Santos=Dumont, registrado, por exemplo, no último verso do último terceto:

 

 

“Em coro, a gloria e o nome eterno cantarão.”

 

          A última homenagem a Alberto Santos=Dumont, naquela noite magnífica, ficou literalmente entalhada na posteridade. Trata-se do soneto “Hosana!”, sob mesma assinatura, impresso a ouro em cetim creme e oferecido ao gênio. Ei-lo:

 

 

Hosana!

A Santos Dumont

 

 

“Hosana hoje entoemos satisfeitos!

De comoção estranha e peregrina,

Que ora a mente arrebata e nos fascina,

Transborda o coração em nossos peitos!

É que entre os imortais estão teus feitos

E a luz da gloria a fronte te ilumina;

Nela vemos brilhar essa divina,

Centelha que do céu baixa aos eleitos.

 

Bem mereces da pátria tua amada,

No estrangeiro por ti glorificada,

Solenes ovações e bênçãos mil;

 

 

Arrojando-te aos ares vitorioso,

Ao fastígio elevaste assim garboso

O nome abençoado do Brasil!”

 

 

          Flagrante, assim, nos é a habilidade linguística, literária e poética de nosso patrono, na cadeira de número 28, neste cenáculo! O professor José Cypriano Soares Ferreira, sem embargo, foi intelectual de escol e referência para nossos conterrâneos, eternizando-se em seus corações. A Lei Estadual 1995, de 1959, substituiu o nome do Gymnásio Mineiro por Colégio Estadual Professor Soares Ferreira. Posteriormente, a Resolução 810, de 1974, foi a responsável por estabelecer à instituição o nome pelo qual nós a conhecemos hoje: Escola Estadual Professor Soares Ferreira.

 

 

Senhoras, senhores.

         

          Passamos, neste estágio, à referência ao nosso fundador, na cadeira de número 28, da arcádia barbacenense, o padre Armando Cesário Ferreira de Lima. Nasceu no município de Ressaquinha, próximo de Barbacena, a 08 de maio de 1910. Era filho de Silvino Ferreira de Lima e de Isaura Cezarina de Lima. Faleceu na madrugada de 21 de setembro de 2001, num dos leitos da Santa Casa de Misericórdia de Barbacena, confortado pelos sacramentos peculiares da fé católica.

Iniciou seus estudos, o primário, em sua terra natal, no Grupo Escolar Belisário Moreira. No ano de 1925, segue para o Seminário Nossa Senhora da Boa Morte, na cidade de Mariana, Minas Gerais, encaminhado pelo Revmo. Pe. José Torquato da Rocha Filgueiras, um protetor, um mentor, a cuja memória o então Cônego Armando, por vezes, se referiu com deferência e veneração filial!

Após quatro longos anos de formação no seminário, inicia sua carreira profissional, como professor, indo lecionar no Ginásio Dom Silvério, em Sete Lagoas, Minas Gerais. Lá, foi responsável pelas cadeiras de Português e Aritmética. Obteve notoriedade na escola e, por conseguinte, ingressou no Ginásio Dom Helvécio, na cidade de Ponte Nova, também no mesmo estado, ocupando-se das disciplinas de Língua Latina e Língua Portuguesa. Trabalhou, ainda, como contador, ou melhor, guarda-livros, na denominação linguística daquele tempo, na firma Gontijo Fonseca na capital de Minas Gerais.

Em 1936, o padre Armando retorna ao seminário. Ele buscava complementar seus estudos, aprofundando seus conhecimentos nos domínios da Filosofia e Teologia. Após o fecundo período, passou por uma experiência sacerdotal interessante: dedicou-se à população encarcerada, oferecendo-lhes o catecismo, em 1941, na Cadeia Pública de Mariana. Também, naquele ano, a 16 de novembro, na Sé de Mariana, era ordenado presbítero, pelo Exmo. Conde Dom Helvécio Gomes de Oliveira, fazendo tirocínio na Matriz de Nossa Senhora da Piedade, em Barbacena, durante o paroquiato dos Revmos. Monsenhor Raul de Azeredo Coutinho e Pe. Aristides Clemente Teixeira, exercendo, de maneira paralela, a capelania do Asilo dos Sagrados Corações de Jesus e Maria e da Assistência a Alienados, hoje, Hospital Regional de Barbacena.

Padre Armando Cesário Ferreira de Lima foi, de fato, uma desbravador, por assim dizer. Em 1944, foi nomeado vigário de São José do Carrapicho (atual Joselândia), acumulou, em 1946, a mesma função na cidade de Rio Melo e, em 1949, na cidade de Santana dos Montes, antigos distritos de Queluz de Minas, hoje, nominada Conselheiro Lafaiete, cidade importante localizada na região central de Minas Gerais. Além de vivenciar seu ministério, com o ardor que lhe era peculiar, trabalhou incansavelmente para o desenvolvimento daquelas freguesias: edificou uma usina hidrelétrica para fornecer energia para o arraial; pugnou para a alteração do nome da localidade que, posteriormente, passou a se chamar Joselândia, como identificamos há pouco. Tendo deixado imensa herança de melhorias para aquela população, é transferido para a cidade de Barbacena.

Em 1958, assume outro grande desafio. Padre Armando de Lima se torna responsável pelos rumos da ermida do hospital Santa Casa de Misericórdia, e também retoma os trabalhos docentes nas salas de aula do recém-criado Colégio Estadual Professor Soares Ferreira, instituição na qual proferiu a aula inaugural, exerceu o cargo de diretor substituto e professor de Língua Portuguesa, Língua Latina, Sociologia e OSPB (Organização Social e Política do Brasil). Mestre exemplar, o Fundador de nossa cadeira pisou outras salas de aula, para nossa sorte! Atuou na Escola Normal Embaixador José Bonifácio Lafayette de Andrada, na Faculdade de Filosofia Mater Divinae Gratiae, instituição da qual somos oriundos, lecionando História Regional, Língua e Literatura Latinas. Ainda, como diretor, conduziu o Ginásio Hamilton Navarro.

A fase porque passou, na referida faculdade, cativou também muitos alunos e alunas. Em mensagem, a nós enviada, em 04 de dezembro de 2017, pela acadêmica Lucilene Zonzin, ocupante da cadeira de número 14 desta Casa, ela revela um pouco da pessoa que representou nosso Fundador:

 

 

“Rodrigo,

 

          Padre Armando foi meu professor de Latim e de Literatura Latina, no Curso de Letras, na Unipac. (1972 e 1973)

          Além de extremamente competente, era dócil, amável, paciente e tratava a todos como um Pai.

          Vibrava com a matéria nas aulas sempre interessantes.

          Passou pela vida de seus alunos como um anjo consolador, amigo.

          Um iluminado que desempenhou com Amor a bela missão de instruir e educar.”

         

 

          O relato singelo nos ilustra o cotidiano do mestre reto, humano e acolhedor, nobres predicados! Ainda nessa esteira elogiosa ao distinto padre Armando, trazemos a lume alguns trechos do discurso de saudação ao nobre fundador da cadeira nº 28, proferido, à época, pelo acadêmico, e sobrinho, Mozart Hamilton Bueno, ocupante, e fundador, por sua vez, da cadeira nº 11.

 

 

“Saudá-lo, Revmº Padre Armando, em nome da Academia Barbacenense de Letras, constitui para mim ambição nunca almejada, já que vozes abalizadas este sodalício as tem em alta escala.

Compreendo, entretanto, esta honraria como excesso de confiança do nosso ilustre Presidente a um seu ex-aluno e por ter sido eu o proponente desta tão honrosa aquisição e ainda porque, para atestar o valor do novo confrade, a voz que o houvesse de saudar devia partir, não dos mais capazes, mas cá do mais humilde, que de tão longe o contempla.

Só assim, compreendo tão severa missão.”

 

 

E prossegue, em seu percurso de boas-vindas ao mestre religioso, de maneira enfática.

 

 

“Cadeira nº vinte e oito.

Patrono: José Cypriano Soares Ferreira.

Professor, latinista, historiador, educador e patrono de um dos mais tradicionais estabelecimentos de ensino de Barbacena.

Vede, pois, meu ilustre acadêmico, que a cadeira nº vinte e oito em que ides ter assento em nosso cenáculo, se nimba de aura de predestinação, que estava a exigir um especial cuidado no seu preenchimento. […]

Vossa cadeira está fadada, assim, a ser uma cadeira de mestres, pois o nome a que ela se vincula traz no heráldico brasão as insígnias nobilitantes do professor. […]

Soares Ferreira, a quem escolhestes por patrono, não foi outra coisa, senão professor.

Ser professor não foi apenas uma função em sua vida, mas a sua própria vida, nas variadas funções que exerceu.

De igual forma, vós também tendes levado o vosso magistério às alturas de um autêntico sacerdócio, dando a eucaristia cívica da vossa ciência e da vossa proficiência a várias gerações de moços patrícios, seja em Ponte Nova ou em Sete Lagoas, seja nos Colégios Prof. Soares Ferreira e Embaixador José Bonifácio, seja na Faculdade de Filosofia “Mater Divinae Gratiae”, onde ocupais, como titular, as cátedras de Latim e de História Regional. […]

Vossos trabalhos sobre linguística, história e genealogia, refletem essa bagagem cultural que vos distingue e vos faz chegar a esta Academia, como vos fez chegar ao Instituto Histórico e Geográfico de São João del Rei.”

 

 

Transbordando de emoção acadêmica, finaliza a oração exclamado todo o seu júbilo.

 

“Sede bem-vindo, Padre Armando Cesário Ferreira de Lima, para engrandecimento das letras barbacenenses e grandeza da cultura mineira.”

 

 

Nosso confrade Mozart Bueno não foi o único que ressaltou aspectos relevantes e curiosos do honrando religioso. O também confrade, padre Paulo Dionê Quintão, ocupante da cadeira de número 19, e, à época, pároco no Santuário de Nossa Senhora da Piedade, em um texto constante no Jornal de Sábado, de setembro de 2001, por ocasião do passamento de seu amigo de ordem religiosa, recorda uma passagem pitoresca.

 

 

“[…] As partidas de futebol que gostava de assistir no antigo Campo do América… Tudo nos aponta para alguém revestido de uma riqueza interior que ficou impressa, indelével, na alma dos que com ele conviveram.

[…] Foi assim que nos encontramos muitas vezes até o último primeiro de maio, em Barbacena, no Jubileu Episcopal de Dom Luciano.”

 

 

Padre Armando Cesário Ferreira de Lima, como dito anteriormente, sempre reconhecera o carinho, o respeito e a admiração das pessoas com as quais conviveu por longos anos e, do mesmo modo, o fez com nossa Academia Barbacenense de Letras, conforme consignado em seus termos no discurso de sua posse, em 28 de janeiro de 1979.

 

“Exmº Prof. Plínio Tostes de Alvarenga, DD Presidente da Academia Barbacenense de Letras.

Senhores Componentes da Mesa.

Exmas. Autoridades – Senhores representantes de Entidades presentes. Ilustres Membros da Família Soares Ferreira.

Exmo. Desembargador Dr. Afonso Soares Ferreira.

Senhoras e Senhores – Prezados Acadêmicos.

Cabe-me, inicialmente, agradecer a honra insigne, a distinção eminente que me eleva e dignifica, de pertencer a esta egrégia Academia.

Outros tantos, que tão sabiamente militam no campo da inteligência em nossa cidade, poderiam estar aqui agora, recebendo estas homenagens.

Mas, à tanta generosidade de vossa parte, cabe-me apenas, dizer-vos: muito obrigado. E eu quero mesmo é ficar em boa companhia, em vossa companhia! Muito obrigado mesmo!

Ao ilustre orador, Professor Dr. Mozart Hamilton Bueno, que, com firmeza e excessiva liberalidade me apresentou, com palavras e conceitos tão generosos também eu digo; Muito Obrigado.”

 

 

O nobre empossado discorre, na primeira parte de sua saudação, sobre nosso patrono: o professor Soares Ferreira. Em dado momento, registra a razão que o trouxera a cidade de Barbacena, de maneira peculiar.

 

 

“[…] Comprometida sua saúde por forte impaludismo, aquela febre que só mais tarde Osvaldo Cruz viria a debelar, com o saneamento da baixada fluminense – viu-se forçado a abandonar o Rio de Janeiro, procurando os ares amenos das montanhas mineiras que lhe eram tão familiares e queridas.”

 

 

Aludimos, anteriormente, à razão aqui ora registrada, contudo cientes de que não atingiríamos a prosa fluida e a linguagem escorreita do querido padre Armando de Lima, característica que nos encanta e nos estimula à leitura de seus vários escritos a nós legados!

Ainda em seu périplo discursivo, por ocasião de sua chegada ao cenáculo de Barbacena, exalta o poema histórico de Soares Ferreira, O Tiradentes, mencionado aqui, no aspecto de sua íntima ligação identitária com os habitantes das Minas Gerais. E finaliza a apreciação.

 

 

“[…] E Euripo Carmense encerra seu poema com uma oblação:

‘Eu venho da penumbra honesta do meu nada

Depor um ramilhete aos pés do semi-Deus.”

 

 

Reconhece a delicada homenagem e a reverência do autor, Euripo Carmense, pseudônimo do nobre mestre, ao mártir de nosso estado natal. Em sua peroração, exalta, ainda, a família de Soares Ferreira e tece-lhes as derradeiras, porém confortantes, palavras acerca da amizade e da admiração, nutridas por Jose Cypriano Soares Ferreira, ao administrar-lhe os sacramentos católicos típicos daqueles que se encontram prestes a trilhar os caminhos que conduzem à casa do Pai.

 

 

“[…] Senhores.

Aí está uma família de escol, descendência numerosa educada carinhosamente na escola de mais rígida e severa moral, apanágio dos grandes em que pese a desorientação espiritual de nossos tempos conturbados.

Família que lhe bendiz o nome no santuário do lar, respeitado, sempre cultuado com ternura e ornado de saudades.

[…] Pureza de costumes, severidade de maneiras realçadas por primores de esmerada educação, fizeram do saudoso professor Soares Ferreira uma lição viva de dignidade como todos atestam, os que com ele conviveram.

[…] E eu, néo-sacerdote aqui em Barbacena, o assisti nos últimos momentos de sua vida e lhe administrei os últimos sacramentos, naquela manhã meio cinzenta de 25 de março de 1942, ajudando-o a partir desta vida, como coadjutor, que era eu, do Monsenhor Raul de Azeredo Coutinho, a serviço da Matriz de Nossa Senhora da Piedade, posso acrescentar:

‘Seu nome será lembrado e suas ações jamais serão esquecidas’ como ensina a Bíblia, o Livro dos Livros.

E assim foi que, aos 81 anos de idade, naquela manhã inesquecível para seus familiares, o sono tranquilo da morte o visitou, às 09 horas da manhã e cobriu-lhe as faces pálidas, de olhos encevados, entregando sua alma ao Criador, a quem tanto procurou servir.

Até hoje tenho diante de mim a expressão daquele olhar profundo que, prestes a extinguir-se, ainda me enviava, do além, uma mensagem de Fé e certeza na imortalidade da alma, que busca o Infinito, o etéreo, o insondável! É forçoso repetir!

‘Suas ações jamais serão esquecidas e seu nome será sempre lembrado para sempre, de geração em geração’.

Disse.”

 

 

Nosso Fundador, na cadeira nº 28, Padre Armando Cesário Ferreira de Lima, como tentamos mostrar, foi inquestionável, sublime! Por meio de ações prolíficas, e sustentado pela fé católica, que lhe era inabalável, procurou amparar os que a ele recorriam e também aqueles que mais necessitaram de um afago, de acolhida sincera e confortável! Realizou muitas obras, como registramos, sempre com nobreza de propósitos e sempre visando ao bem-estar da coletividade, exemplo caro que nos engrandece e nos inspira em nossa trajetória!

 

 

Senhoras, senhores,

 

No limiar desta oração laudatória, reconhecemos a premência de nosso registro outro, a nosso juízo tão relevante quanto aqueles tantos, espraiados por estas várias linhas que objetivaram recordar e perpetuar as memórias dos conspícuos personagens.

Desejamos aqui render a justa, necessária e imorredoura gratidão à nossa mestra, à nossa madrinha nesta confraria, ocupante da cadeira nº 18, Zenaide de Araújo Gomes Vieira Maia (in memoriam), pela proposição de nosso nome como, àquela altura, alguém elegível a alguma cátedra nesta egrégia Academia! Assim o foi…

Também, forçoso se faz estendermos as palavras aos nossos reconhecidos pares na Casa. Agradecemos os senhores e as senhoras, penhoradamente, pela escolha de nosso nome para somar, sempre observando as finalidades primordiais da Academia Barbacenense de Letras, a cuja referência já havíamos procedido no exórdio.

Na verdade, sentimo-nos recompensados pela generosidade e pela acolhida que recebemos, pois que, cá deste degrau, está o agora confrade que, a dada distância, os perscruta e os aplaude! Avidez jamais descortinada, mas prestigioso laurel, relevo excelso que me alegra, edifica!

Finalmente, apresentamos nossos respeitos à acadêmica Lucilene Zonzin, ao professor/ pesquisador, dr. Dimas Enéas Soares Ferreira, e ao também pesquisador, sr. Paulo Cunha, ambos bisnetos do professor Soares Ferreira, por haverem facultado acesso a muitas informações de destaque que se fizeram necessárias para a confecção deste texto. Nosso obrigado!

 

Rodrigo Tostes Geoffroy

Da Academia Barbacenense de Letras

Dezembro de 2023

 

 Referências

Arquivo documental da Academia Barbacenense de Letras – ABL.

Arquivo documental do pesquisador Dimas Enéas Soares Ferreira.

Arquivo documental do pesquisador Paulo Cunha.

Arquivo documental do Jornal Cidade de Barbacena.

Arquivo documental do Jornal de Sábado.