Áurea Luíza Vasconcelos
Em breve, por culpa de um joelho a requerer reparos, terei um tempo livre de maiores atividades. Esta perspectiva de relax obrigatório, levou- me, por antecedência, a uma das melhores livrarias da cidade. Nada melhor que uma boa leitura para vencer o ócio. Eram muitos os stands cobertos de livros com um nível de Informações bem direcionadas…Um cenário de cores, uma tentadora criatividade em designs de capas, além de títulos misteriosos e cativantes. Gastei um bom tempo circulando por entre eles e confesso, sem saber bem o que estava buscando, até que um jovem veio em meu socorro com a clássica pergunta: “ Em que posso ajuda -la?” De imediato, informei estar procurando alguns livros cuja leitura fosse leve e agradável. Algo que me ajudasse a superar as possíveis dores, inundando meu coração sem afoga – lo em outros sofrimentos desnecessários, garantindo -me momentos de paz. Apesar de elegante, sua juventude não lhe permitiu esconder ares um tanto céticos, devolvendo – me um olhar entre desconfiado e perdido. Compreendi seu espanto. Com certeza, pensava o que seria inundar o coração sem afoga – lo? Uma senha estranha para sentimentos mais estranhos ainda! Tentei esclarecer mas, percebendo a dificuldade, discretamente agradeci sua colaboração e continuei passeando pelos stands parando ora num, ora noutro… folheando um livro… detendo – me em temas sugestivos…observando o crescente número de autores desconhecidos… Uma navegação silenciosa por aquele mundo onde transcender ao papel seria alcançar uma infinitude de sentimentos ou aventuras ali plasmados…São mergulhos nas emoções dos personagens, ajudando -nos a compreender nossos próprios sentimentos. A entender que, como a pétala precisa do vento para que voe, a leveza das palavras também precisa de um impulso motivador. Tudo isto levou – me a pensar no poder de um bom livro…Imaginei que, como todas as coisas, também deve existir um tempo certo para a leitura certa… E seu poder está na medida em que reflete profunda e honestamente sobre o sentido da vida, tocando o coração dos leitores…afinal, quando compreendemos o mundo, somos mais fortes, mais humanos, melhores, mais capazes para nossas escolhas…
Continuei minha peregrinação e, mais segura do que antes, em meio a uma infinidade de sugestões, escolhi meus companheiros de temporada: Adélia Prado, Guimarães Rosa, Neruda, Cecília Meireles, Manoel de Barros, Haruki Murakami, Baudelaire e Sandro Veronesi, este último, com o objetivo de conhecê -lo.
Satisfeita, ao entregar os livros ao jovem atendente para finalizar a compra, recebi um olhar simpático, não menos curioso…
Assim que deixei a livraria, passei uma vista d`olhos nos volumes que alí estavam na bolsa que os levava, desejando, muito sinceramente, “ Tomara que inundem meu coração, sem afoga – lo!”
Áurea Luíza Vasconcelos é fundadora da Cadeira número 34 da Academia Barbacenense de Letras