Wagner de Montalvão é um homem de raiz profunda. Nascido em Barbacena, Minas Gerais, viveu seus quase 78 anos de existência sempre na mesma casa, no então Largo do Rosário (hoje praça Dom Silvério), número 53, onde se fez poeta e funcionário público da coletoria estadual. A escrita o levou a ser o patrono da cadeira de número 24 dessa Academia Barbacenense de Letras. Um reconhecimento dos pares a uma obra marcada por poemas de profunda devoção. “(…) um grito de sua alma ilusionada ante aquilo que imagina resplandecer no seu sonho”, escreveu o amigo Honório Armond sobre o livro “Urna de lágrimas”, em 1930.
Filho do maestro e professor João Crisostomo de Montalvão, falecido quando ele tinha dois anos, é à mãe Alzira de Montalvão que Wagner vai dedicar seus versos mais viscerais, gestados pelo forte afeto que persiste mesmo diante da morte dela, em 1939.
Aqui estou, minha Mãe, minha saudosa
Bem amada, afagando o teu jazigo…
Escuta-me nesta hora soluçosa,
Deixa o meu coração falar contigo.
Desperta, Mãe sublime, lacrimosa,
Vem consolar teu filho – este mendigo
Do teu carinho… Vem, ó minha rosa,
Vem, Mãe do coração, chorar comigo.
(Coroa de lágrimas, 1943)
Clama o poeta com a convicção romântica em anos marcados pela alvorada do modernismo, porque Wagner de Montalvão é um homem de raiz profunda, que buscou inspiração naquilo que se assenta de tal forma que se constitui atemporal, como o amor por uma mãe. Amor, essa “pachouchada sinistra”, como lhe escreveu, ironicamente, Armond, destacando o caráter do autor: “sincero com as suas crenças, despretensioso como a sua personalidade”.
A fé cristã também mereceu de Wagner de Montalvão o comprometimento enraizado. Durante anos, escreveu as preces da Ave Maria, apresentadas diariamente na Rádio Barbacena, na voz de Barbosa Silva.
Dezoito horas! Dezoito círios que se apagam no iluminado altar de nossa vida!
(…)
Ó divinal Maria, ouvi-nos, amparai-nos, atendei-nos, purificai-nos a fim de que possamos um dia, exclamando: “Ave Maria! Cheia de graça!” contemplar o vosso Rosto preso à moldura azul do Firmamento.
Wagner de Montalvão é o autor da letra do Hino da Piedade, com música de Noé de Assis Lima. E emprestou sua voz aos corais das igrejas da cidade.
Os seus poemas e artigos circularam em diversos jornais e revistas de Minas Gerais. Na década de 1920, publicou seu primeiro livro “Orações de um triste”. Em 1943, saiu “Coroa de Lágrimas”, uma ode enlutada à mãe e livro dedicado aos irmãos Gentil Homem de Montalvão e Arternísia de Montalvão. Ainda legou os inéditos “Urna de Lágrimas” e “Prece de Ave Maria”.
Faleceu na sua Barbacena de sempre, em oito de fevereiro de 1968.
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por Brune Montalvão, jornalista, escritor e sobrinho-neto
FONTE:
1- Depoimento de Alzira de Montalvão Pereira, sobrinha de Wagner de Montalvão
2- Euge, poeta – Apologia de Wagner de Montalvão, do acadêmico Gabriel Bicalho