A simplicidade, a beleza e o sentido da vida
Por Maria da Glória Bittar de Castro Pereira
A poesia é uma das formas mais completas de emoção. Já se tentou defini-la por inúmeras vezes. Hoje, ao invés de defini-la vamos apenas senti-la. Afinal de contas, SENTIR é a regra número um da arte poética e literária. Essencialmente, a poesia é a arte de fazer versos. Se mergulharmos mais fundo, diríamos que poesia é a arte de fazer vida. Fazer vida é ter capacidade de jogar com sentimentos e emoções através das palavras. O instrumento de trabalho do artista é a palavra. Sua matéria é a VIDA com tudo o que ela pode oferecer de sublime ou sórdido. Tendo como farol condutor a sensibilidade o poeta no apresenta sua interpretação de acontecimentos, de emoções, de fatos do dia-a-dia. O poeta fala por nós. Ele é nossa voz. Enquanto o homem procura esquecer as contradições e incertezas para melhor mover a máquina do mundo, o poeta, individualmente, busca o absoluto, vivendo no eixo dessas mesmas contradições. Assim também podemos considerar o ROMANCISTA, aquele que retira do mundo real matéria para a criação de uma atmosfera especial e própria, criando personagens, acontecimentos, fatos. ideias e ideais baseados em sua própria vivência. Assim foi como ilustre fundador da cadeira que desde setembro de 1990 ocupo na ABL, Zenon Caldas Renault (1910-1990), homem de poucas palavras, mas de muita expressão, expressão claramente observada em seus romances que retratam sua vida e seu cotidiano, onde os personagens quase sempre eram reais, muitas vezes citados pelo próprio nome. Zenon Caldas Renault escrevia por prazer… Pelo prazer de nos brindar com suas brilhantes criações. Homem simples, sem grandes ambições, usou em várias de suas obras o pseudônimo de Von Sierck. Mais extraordinário ainda é que além de criação literária, Zenon materializava suas obras com suas próprias mãos. Letra a letra, palavra por palavra, frase por frase… Seus romances foram compostos e impressos por ele próprio numa oficina gráfica em sua residência. Que grande prazer deve sentir um artista ao concretizar sua criação, tornando-a palpável e material com seu próprio trabalho. Um fato surpreendente, bonito e admirável.
Rotas Diferentes (1968), Estrada do Destino (1962), Fatalidade (1966) e Almas Angustiadas (1969) foram os romances que este grande homem publicou desta maneira tão interessante. Turbilhão (1965), A Família Santos (1961), Mariana (1963), Colégio, Sentido (1968), Caminho da Vida (1963) e Reminiscências de Juiz de Fora (1964), completam sua obra mesmo ainda não tendo sido publicados. Formado em Farmácia pela Escola de Farmácia e Odontologia de Juiz de Fora (1930), Zenon Caldas Renault exerceu esta profissão por toda a vida tendo residido em várias cidades, como: Vargem Grande (hoje Belmiro Braga), Padre Brito (distrito de Barbacena), Santa Bárbara do Tugúrio, Paiva, Santos Dumond e Juiz de Fora. Nas localidades menores, o farmacêutico Zenon era um verdadeiro médico. Quantas vidas não terá salvo este homem simples e de coração bom? Zenon Caldas Renault partiu para a eternidade em 1990, mas deixou para nós uma obra rica em lições. Na simplicidade se encontra a verdadeira beleza e sentido da vida. A ele a homenagem da ABL e da ocupante atual de sua cadeira na Academia.
*Acadêmica efetiva da ABL .
“Casa da Cultura” Ilustração de Waldir Damasceno no livro “Cores de Barbacena, uma viagem pela história da cidade”, página 113 (Cadeia Velha – década de 1930 / atual Casa da Cultura Municipal). Técnica: Aquarela/nanquim s/ papel debret – 56×37 cm – desenho e pintura a partir de foto
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